quarta-feira, 5 de abril de 2017

Como chama?

"Bug" do Milênio?

O universo da tecnologia conhece muito bem essa expressão, que tornou-se o grande pesadelo da virada do século! 

A incógnita sobre as consequências da entrada do ano 2000, em relação aos sistemas operacionais e programas que estavam limitados à contagem 1999, tirou o sono de muita gente da TI - Tecnologia da Informação - e milhares de usuários. 

A expressão bug, no sentido de falha na programação, ganhou uma evidência mundial e conhecimento até para leigos.

Bug da Década?

Primeira expressão que ouvi e li sobre os rústicos veículos que, criados para as dunas californianas, iniciavam uma conquista mundial, de inegável simpatia e tremenda aceitação.

Lembro, como se fosse hoje, do encantamento causado pelo incrível "Besouro Verde" apresentado pelas páginas da revista Quatro Rodas, oferecido como Kit para revolucionar os Fuscas da época e ampliar os conceitos de diversão automotiva!


Quem tinha acesso às revistas importadas dos EUA - não era meu caso - já conheciam e sonhavam com o conceito, iniciado com a criação do Manx (em 1962) pelo californiano Bruce Meyers. 

Criador e "criatura" - Foto: Hemmings.com


Esses leitores - uma minoria - já conheciam a expressão original: 

Dune Buggy

O formato do Manx, um dos mais copiados no mundo, é uma referência desde sempre e até hoje! 

Quem duvida, pode tentar lembrar do desenho animado (1973) do conceituado estúdio Hanna- Barbera, que chamava-se Speed Buggy e, curiosamente, tinha profunda semelhança com outra série de sucesso: Scooby-Doo


Alguns felizardos trouxeram os Kits na bagagem e espalharam o conceito pelo Brasil, até que a tradicional Glaspac adquiriu os direitos locais e tornou-se o primeiro "Buggy" fabricado no país!

A primeira menção que li sobre a expressão original foi na Revista AutoEsporte de 1969, que ajudou muito na popularização do conceito.

Scan: Site Lexicar Brasil

A matéria sobre o Bug - o "Besouro Verde" de minhas memórias - na Revista Quatro Rodas apresentava o primeiro exemplar nacional, desenhado pelo genial Anísio Campos (também pai do Puma). E o instigante conceito de Kit, que poderia renovar os Fuscas envelhecidos ou acidentados.

Vale lembrar que o Tropi Kadron foi o primeiro "Bug" nacional registrado no GEIA - Grupo Executivo da Indústria Automotora.

Claro que a juventude da época comprou a idéia, pela sensação de liberdade, investimento baixo e possibilidade de renovar alguns combalidos VWs, sem esquecer de que havia três pacotes diferentes para que se adaptassem a diferentes "bolsos"!


Mas a multiplicidade de expressões estava lançada, e ia "piorar"! (rsrs)

Acredito que ajudaram nessa diversificação o plural de Buggy - Buggies - e as tentativas naturais de aportuguesar a expressão, como Bugue e Buguie.

Surgiu também outra expressão, aparente consequência da fonética (som efetivo) e influência de capítulos da história brasileira: 

Bugre!

Apelido - de caráter pejorativo - dado aos indígenas por alguns colonizadores europeus, no sentido de "bárbaros e não cristãos", a expressão Bugre apresenta indiscutível semelhança fonética com Buggy/Bug/Bugue/ Buguie.

Apesar da origem discutível e politicamente incorreta, o brasileiro deu uma "rasteira" no preconceito e assumiu a expressão Bugre como sinônimo de rusticidade, resistência, mestiçagem e, principalmente, respeito pelo nativo que faz parte da etnografia nacional.

Simultaneamente, e com grande efeito na popularização de mais essa expressão, uma empresa do Rio de Janeiro registra Bugre como marca. 

O modelo escolhido para essa estreia, e que continua no portfólio até hoje (com pequenas alterações), também é cópia do pioneiro Manx.

Bugre I - Foto: Lexicar Brasil

Afinal, qual a expressão correta?

Buggy, Bug, Bugue, Buguie ou Bugre?

Resposta em apenas uma palavra: todas! Rsrs

Essa postagem surgiu pela natural curiosidade e, principalmente, polêmica em relação ao tema.

Alguns amigos divergem, mas, todas as expressões são democraticamente aceitas e, claro, sofrem variações regionais.

A expressão Bugre, por exemplo, é muito popular no Rio de Janeiro (acredito que em função da marca), na Bahia - testemunho pessoal - e Sul do país.

Para vocês terem uma noção, o Jornal  Correio Brasiliense sé reconhece a expressão Bugre, pois está no VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa - da Academia Brasileira de Letras. 

Essa é a expressão que usa em matérias do segmento, como, por exemplo: O veículo foi solicitado pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) – responsável pela administração da área –, que também disponibilizou quatro picapes, quatro quadriciclos, dois bugres e três barcos para as buscas.

Enfim, não importa a expressão favorita de cada um, o que vale é a essência desses incríveis veículos, que "ensina", principalmente, o respeito pela diferença e diversidade!

Pessoalmente, prefiro as expressões aportuguesadas - Bugue ou Bugre - pois a indústria e design nacional são referências mundiais.

Até as caricaturas/personagens são ímpares, como no trabalho de nosso grande amigo e designer Maurício Morais! Rsrs


E viva as diferenças!
   

2 comentários:

  1. 👏👏👏👏👏 excelente reportagem! Verdadeira aula sobre a origem dos nossos apaixonantes carrinhos. Parabéns Seixas! Pela reportagem e riqueza de conhecimentos.

    É um enorme prazer tê-lo em nosso Clube!

    André Fernandes
    Clube do Bugre - BA.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande André, como vai?
      Obrigado amigo, pelo comentário e elogio!
      Na verdade o mérito é do tema, que tem sido recorrente nos últimos tempos !!!! Rsrs
      Grande abraço e parabéns pela nova iniciativa, que estará - muito breve - em postagem específica.

      Excluir